terça-feira, 13 de julho de 2010

“Entrevista” com a mente pensante.

“Entrevista” com a mente pensante.

De forma livre e expontanea em tirar da mente para o papel e com forte interesse em “ferir-te” e fazer-te pensar (se é que pensas), decidi hoje, endereçar-te a presente “entrevista” que tive com a minha pessoa em relação ao estado actual da casa de cultura da cidade da Beira.

Paulo de Sousa (PS) – Qual importância teria a casa de cultura numa determinada Cidade ou Pais?
Mente pensante (MP) – Antes de ir necessariamente a resposta desta questão, irei focalizar ou compilar alguns acontecimentos que marcaram o renome deste gigante local de libertação psíquica e quiçá obterás a resposta mais completa e concisa desta questão e outras que poderão advir.
PS - Fique a vontade, antes, aceita que lhe coloque mais um duplo de whisky no seu copo?
MP – A vontade, porem com pouco gelo.
PS – ok, continue se faz favor.
MP - a inauguração do Auditório Galeria de Arte a 20 de Agosto de 1967, actual Casa Provincial da Cultura de Sofala Foi não só para ser palco de exposições culturais mas também uma reacção à política cultural que a comunidade portuguesa residente na cidade da Beira pretendia demostrar.
PS - Esta a dizer que através de praticas culturais podemos mostrar o nosso descontentamento a politica?
MP - Sim!
a cedência do espaço onde foi erguido um palácio das artes em pleno “coração” de Moçambique. A construção do Auditório Galeria de Arte constitui um dos marcos mais importantes do desenvolvimento cultural da cidade da Beira como já disse. No acto da sua inauguração, em 1967, se tratava de ”… homenagem impessoal indiscriminada, a uma cidade inteira, à qual se deve até agora, e da qual se espera, justificadamente, a continuação do edifício até à sua completa realização”. Espelha-se nestas palavras o sentido de liberdade espiritual que não iria perdurar por muito tempo.
Nota-se também que a obra provocou uma grande mudança. A cidade da Beira nunca mais seria a mesma. Esta ambição e privilégio que a Beira teve de ser pioneira em ter um espaço verdadeiramente cultural e parte da sua comunidade poder apresentar suas aptidões artísticas foi uma importante conquista no mundo das artes.
Para perceber a importância do Auditório Galeria de Arte para a cidade da Beira, retomo uma vez mais Gouvêa Lemos. Quando ele se referia a este empreendimento a dado passo afirmou: ”legado de pioneiros, será o testemunho de que ainda jovem, a Beira começou a preocupar- se com a sua promoção cultural”.
Importa referir que a sociedade civil jogou um papel importante para que o Auditório fosse erguido. Foi a iniciativa da sociedade civil que deu origem a uma das ideias mais brilhante que a Beira já teve, pelos menos na perspectiva cultural.
PS. – Que marcos tem em referencia a Casa P.de Cultura de Sofala?
MP – Antes, posso pedir um café e que me encham o copo?
PS.- Sinta-se a vontade.
MP – Jovem, tu não imaginas oque foi a Casa P. de Cultura de Sofala, nem quem passou por lá. Há pouco mais de uma década ainda podias sentir o prazer de lá estar.
Antes irei tentar citar as referencias antigas. Já ouviste falar de José Pádua?
PS – Vagamente
MP - José Pádua notabilizou-se nas artes plásticas, A sua obra encontra-se distribuída em quase todos os bairros de cimento da cidade. Desde o desenho, passando pela pintura e desaguando no alto e baixo relevos. Grande parte da arte pública nesta cidade é da sua autoria. É possível apreciar a sua obra nas paredes exteriores do Clube Ferroviário da Beira, na sala VIP do Aeroporto Internacional da Beira, na sala de espera do Gabinete do Presidente CMB (pintura), no ginásio da Universidade Pedagógica delegação da Beira entre outros lugares públicos e privado.
Além deste pintor, em 1970, Malangatana Valente Ngwenha, o mais notável pintor deste país, pintou “Vovó Chipangara está Zangada” na parede frontal do Auditório-Galeria de Arte(Casa de Cultura). Este mural encontra-se actualmente completamente degradado e a clamar por retoques urgentes. É provavelmente o único mural deste artista na cidade da Beira, pelo menos em lugares públicos e se calhar em toda a região centro e norte do país.
Shikhani, contemporâneo de Malangatana, pintou um mural no Centro Social da actual Casa Provincial de Cultura.
A sua plástica é marcada principalmente pela escultura e alto relevo, pelo menos no que toca a arte pública. Os rituais de nascimento, casamento e de morte representados em alto relevo no Palácio dos Casamentos . À plástica de Shikhani junta-se a de Carlos Beirão (já falecido), homem multifacetado e multicultural. Beirão, não deixou grandes marcas de arte pública e nas artes plásticas plásticas em geral mas, não se pode negar o seu contributo para o desenvolvimento da cultura do Chiveve.
Carlos Beirão na pintura, canto dança, emfim, tentou manter viva a chama da cultura na C.da Beira, lutando para preservação da casa dos bicos, local de grandes eventos na altura, Casa P.de Cultura impulsionando o canto através de conjuntos musicais, de destaque na altura o conjunto “rastilho”, a qual faziam parte um grande elenco de músicos locais, Inácio de Sousa( com sua famosa musica “Mariza buera”), David Mazembe,Thazi (já falecidos) e Romualdo, Madala, Jah Bee( a quem tiro o chapéu por algo precioso que fizera, e a quem não pude manifestar o meu agradecimento por falta de oportunidades), Orlando Reis, entre outros.
Todos estes passaram pelos palcos da Casa P.de Cultura da C.da Beira, ora para shows ou ensaios, emfim era uma verdadeira festa. Grandes membros de grupos de teatro, desde amadores a profissionais nasceram ali, de destaque o grupo teatral Haya- Haya, ninguém perdia seus shows. Era tudo muito bonito, os fins de semana tornavam-se animados e divertidos.
PS. – Vemos através de sua abrangente abordagem que a Casa de Cultura da Beira foi sempre importante para os artistas e o povo em geral; neste contexto, de que se espera dos artistas e o povo sem este local (uma vez estar destruído e sem uma reconstrução visível) ?
MP. Do que se espera nada! Já é visível as consequências de sua paralisação. Hoje, os artistas não têm local apropriado para actuarem ou ensaiarem, a par disto vemos inúmeros artistas, amadores, entre outros que usufruíam daquele local “sem abrigo” para tal, cortando deste modo ou influenciado psicologicamente para não surgimento de novos talentos e/ou um fraco desenvolvimento no aspecto cultural da urbe.
Os músicos tinham aquele palco para ensaios e actuações, os grupos teatrais, tardes recreativas com crianças e jovens mostrando seus talentos, emfim, um conjunto de aspectos ricos para desenvolvimento psico, físico da comunidade foram diminuindo pela “decadência” física e extrutural daquela humilde arquitetura. Os hawa - hawa que o digam.
PS. – E oque é feito destes conjuntos/grupos?
MP.- Uns procuram manter viva o dom que possuem( usando suas residências para ensaios, casas de pasto para actuações, entre outros), outros simplesmente aparecem quando há iniciativas locais para mostrar ou lucrar com oque possui como “dom” ; a casa de cinema Novocine têm ajudado muito para isso (actuações de grupos teatrais).
PS. Foi dito muita coisa neste rol de perguntas e respostas (para não chamar de entrevista), há algo mais a acrescer no contexto da presente?
MP. – Sim, para terminar, gostava de deixar uma mensagem ao governo local e central, incluindo a comunidade em geral para de uma ou de outra forma fazerem voltar a casa provincial de cultura, situada na C.da Beira, primeiro porque foi, é, e sempre será importante para todos nós. Reerguendo aquela estrutura estaríamos de grande maneira a acender a chama que sempre caracterizou a Provincia de Sofala no que tange ao desempenho cultural e quiçá a combater sobre maneira a pobreza absoluta e evitando que naquele local circulem/habitem amigos do alheio e se cometam crimes (como têm acontecido nos últimos tempos).
BEM HAJA !


Por: Paulo Sandro de Sousa